Passara pela mão de muita gente sem ser considerada leviana. Há muito tempo encontrasse nessas indas e vindas, com pessoas que sequer imaginava que existissem e em lugares inusitados. E isso já ocorre há tanto tempo... Desde o começo, já rolava de mão em mão, já era dada em troca de algo valioso, ou até mesmo, em troca de um serviço qualquer. Nunca soubera o nome de seus donos – e já tivera muitos -, embora tenha contato direto, sentindo dia após dia em seu corpo, o toque das mãos delicadas ou estúpidas que a amparam; Apenas possui silenciosa desconfiança de um nome próprio – o seu - e uma respectiva aparência – a sua -, tatuados em sua estreita matéria, sendo ofertado a ela por isso, valia diante de outras coisas maiores e mais significativas. Sua existência é repleta de altos e baixos, e se a conhecerem, perceberão inconstância apenas em fita-la: dia com um, dia com outra, coisa bissexual, que não escolhe quem, quando ou onde será desfrutada ou rasurada. Seu destino a Deus pertence. Fora trazida de longe para cá. Tivera a sorte de percorrer vários lugares. Algumas vezes fora olhada com ganância por ter sido símbolo do status de alguém, e em outros momentos, não carregara importância alguma, sendo levada de qualquer jeito, dada em troca de um cachorro-quente de rua ou oferecida a uma vadia pela troca de seus vulgares serviços. Fora bela, mas com o tempo perdera os bonitos traços da juventude. E então, depois de muitos anos percorrendo lugares, sentindo corpos, sendo cúmplice, amada por todos, usada, usada e usada, chegara seu fim. Naquele dia de chuva, em que seu ultimo dono a carregava desconfortavelmente no bolso da camisa suada, ao percorrer uma rua lamacenta, aos tropeços, cheirando a cachaça, em que ela esgueirou-se e voou para longe, até cair em uma poça d’água, gerada pela chuva que a pouco havia parado. Seus detalhes esmaecidos, perderam toda e qualquer vivacidade quem ainda possuíam; Seu rosto, nome e valor, gravados em seu corpo, aos poucos desprenderam-se em inúmeros fragmentos; Sua lucidez, esvaia-se junto com a vida que restava, e a água lamacenta levava sua matéria fragmentava para ser depositada por fim em algum fétido bueiro na calçada.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Ela
Passara pela mão de muita gente sem ser considerada leviana. Há muito tempo encontrasse nessas indas e vindas, com pessoas que sequer imaginava que existissem e em lugares inusitados. E isso já ocorre há tanto tempo... Desde o começo, já rolava de mão em mão, já era dada em troca de algo valioso, ou até mesmo, em troca de um serviço qualquer. Nunca soubera o nome de seus donos – e já tivera muitos -, embora tenha contato direto, sentindo dia após dia em seu corpo, o toque das mãos delicadas ou estúpidas que a amparam; Apenas possui silenciosa desconfiança de um nome próprio – o seu - e uma respectiva aparência – a sua -, tatuados em sua estreita matéria, sendo ofertado a ela por isso, valia diante de outras coisas maiores e mais significativas. Sua existência é repleta de altos e baixos, e se a conhecerem, perceberão inconstância apenas em fita-la: dia com um, dia com outra, coisa bissexual, que não escolhe quem, quando ou onde será desfrutada ou rasurada. Seu destino a Deus pertence. Fora trazida de longe para cá. Tivera a sorte de percorrer vários lugares. Algumas vezes fora olhada com ganância por ter sido símbolo do status de alguém, e em outros momentos, não carregara importância alguma, sendo levada de qualquer jeito, dada em troca de um cachorro-quente de rua ou oferecida a uma vadia pela troca de seus vulgares serviços. Fora bela, mas com o tempo perdera os bonitos traços da juventude. E então, depois de muitos anos percorrendo lugares, sentindo corpos, sendo cúmplice, amada por todos, usada, usada e usada, chegara seu fim. Naquele dia de chuva, em que seu ultimo dono a carregava desconfortavelmente no bolso da camisa suada, ao percorrer uma rua lamacenta, aos tropeços, cheirando a cachaça, em que ela esgueirou-se e voou para longe, até cair em uma poça d’água, gerada pela chuva que a pouco havia parado. Seus detalhes esmaecidos, perderam toda e qualquer vivacidade quem ainda possuíam; Seu rosto, nome e valor, gravados em seu corpo, aos poucos desprenderam-se em inúmeros fragmentos; Sua lucidez, esvaia-se junto com a vida que restava, e a água lamacenta levava sua matéria fragmentava para ser depositada por fim em algum fétido bueiro na calçada.
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É...
ResponderExcluirNem sempre o que nos é valioso, tem valor a outros.
Observe as formigas: elas trabalham muito para juntar os farelos que jogamos fora!!!
Não sei se entendi a mensagem por trás do texto mas me fez pensar nisso.
Eu gosto do que tu escreve...
Bjs