segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Previsibilidade versus Gosto

Estava esses dias em um restaurante acompanhado de uma amiga e fui me servir de sobremessa. Foi só o tempo dela gritar:



- Eu não acredito que tu vai te servir de salada de frutas de novo!


- Sim, é a minha sobremessa preferida. E se não fosse salada de frutas seria gelatina...


Tive que ver um saudoso virar de olhos acompanhado de um balançar de cabeça:


- Tu é muito previsivel, sempre se serve da mesma coisa. Olha quantos doces deliciosos tem por aqui...


Ela estava certa quanto aos doces, mas errada quanto ao julgamento: Afinal, onde fica o meu livre arbitrio de escolher a minha própria sobremessa? Será que não passou pela cabeça dela que eu não possa gostar daqueles doces tanto quanto eu gosto de gelatina ou salada de frutas? Não acredito que meu caso seja de "previsão", mas sim, de "gosto". Afinal, quantas pessoas largam tudo o que estão fazendo para olhar tv? Ou melhor: quantas pessoas deixam de fazer qualquer outra coisa para ficar assistindo tv? Ou ficarem conectadas na internet, ao invés de dar um passeio num dia ensolarado? Elas não são previsiveis, mas possuem uma preferência específica. Cada um escolhe aquilo que lhe parece melhor. Por exemplo, quando vou escrever gosto de usar a fonte times (apenas ao escrever, não ao postar). Muitas pessoas que eu conheço detestam usar, mas eu prefiro. Gosto de usar porque me agrada ao escrever enxergar letras com serifas. Essa é a razão. E para esse ser o meu motivo, não é necessário que alguém sinta a mesma necessidade das serifas que eu sinto, ou consiga perceber o que eu percebo; Não é porque alguém não entende, que eu esteja dando uma falsa justificativa ou que ela não seja admissível. É como gostar de ler determinado autor, e a pessoa não compreender porque diabos você não lê aquele outro. Me entendem?


Vou continuar com a minha salada de frutas e gelatina: são mais naturais e já tenho certeza que são livres de quaisquer previsibilidades.

domingo, 19 de setembro de 2010

A intolerante - Estórias de Psicólogos # 1

– Como assim não tem jeito?


Nunca imaginei ouvir isso de você. Eu faço terapia a tanto tempo que acredito merecer mais compreensão pelos meus problemas. Afinal, graças a eles é que eu estou aqui e pago todo santo mês a gorda conta pelo meu desequilibrio. Você nunca me respondeu nesse ar de desdem, nesse ar de “foda-se sua cretina, cada um com sua vida”. Me diz que não há jeito, que o que esta feito, esta feito, azar é o meu e ponto final. Você nem tem mais aquele olhar complacente. E onde estão as palavras otimistas e motivadoras? Você está tão azeda quanto uma laranja verde, que parece ter dormido com os pés destapados. Ou não deu. Mas tudo bem, se você não deu, não deu, eu até entendo, já me senti assim diversas vezes por não ter dado, mas bem que podia ao menos terminar de me escutar! Eu tô precisando desabafar cara!

– E eu acho melhor você dar o fora daqui.

Dar o fora daqui? Como assim? Isso é jeito de falar?? A sessão acabou de começar e você acabou de acabar? Que história é essa? Ai, ai,ai, acho que você não está muito bem mesmo. O que houve? Quer me contar? Desabafa comigo, talvez eu possa te ajudar, não é? Inversão de papéis não é o meu forte, mas eu posso abrir uma excessão para você...

- Não aguento mais ouvir você falar qualquer coisa que seja.

Bom, queridinha, nessa caso fica dificil. O que está acontecendo? Que bixo te mordeu? Olha, vou começar a levar a sério essas coisas, e desse jeito nunca mais volto aqui mesmo, viu? Mas deixe me ver, você está bem diferente... É o cabelo, né? Corte novo, ta na cara! Mas.... quem é essa criatura que finje que corta? Digo, acho melhor você mudar de cabelereiro, e tenho que te confessar que eu também ficaria meio amargurada caso fizessem isso comigo... Ele deve trabalhar numa pet shop, porque você está parecendo um poodle. Ou uma ovelha...

- Tenha uma boa tarde.

Perai, eu não disse que ia embora, não fica me cortando desse jeito. Além do mais ainda temos meia hora. E já que está de pé, aproveita e me busca um cafezinho por favor? Como assim, você não é minha empregada? E você não irá me trazer nem um copo d`água? Água não se nega a ninguém viu, minha vó já dizia isso... Sim, sim, mas é que eu tô precisando terminar de falar, pombas! Tô com a coisa intalada na garganta e não consigo colocar pra fora porque você não me deixa falar! Não, eu não vou vomitar no teu tapete Persa, não é isso que eu quis dizer... Bom, se você prefere ficar de pé tudo bem, eu não me importo. Mas pelo menos fica atrás da mesa, se ficar de pé na porta aberta igual um dois de paus vou começar a ficar ansiosa e com torcicolo de ficar com o pescoço virado. Estou começando a achar que você quer mesmo que eu vá embora. Como assim você quer mesmo? Como assim "até que enfim você percebeu isso"? Alguma coisa aconteceu para você estar me tratando dessa forma, não é? Me conta de uma vez, que eu prometo ir embora e nunca mais falamos sobre isso, ok? Ah... você trocou de profissão... é isso? Eu devia ter desconfiado... Bom, então já vou indo mesmo... muito obrig... mas que vaca! Fechou a porta na minha cara! Fez bem ter trocado de área, nunca gostei do trabalho dessa ordinária mesmo...

sábado, 18 de setembro de 2010

Um encontro Fugaz

Dentre os guarda-sóis que se enfileiravam ao longo das areias brancas da praia, o dela destacava-se. Talvez, por seus detalhes nada convencionais - florido, com cores que abrangiam o laranja, roxo, rosa vivo, verde limão, e babados e mais babados. E não somente seu guarda-sol era atração nas areias daquela praia, como também, ela própria: moça, pele muito branca, cabelos vermelhos intenso, diversas tatuagens expostas, estrategicamente, por alguns locais de seu corpo mignon. Sem falar de seu maiô da década de 30, comprado, provavelmente, em algum brechó de Porto Alegre: o mais ousado de toda praia.


E foi nesse ínterim de sol e mar que ele tomou conhecimento dela; figura excêntrica perto das tantas outras que se alargavam ao seu lado com suas toalhas de praia espaçosas, guarda-sóis monótonos, biquínis minúsculos e cavados. Essa disparidade dela em relação ao restante das outras meninas que freqüentavam aquela praia, apenas acentuava seu fascínio. E então, ela se sentara, e após passar seu bloqueador solar, tirara de dentro da enorme ecobag um livro de algum autor cult. E em momento algum parecia interessada em pegar sol, ou jogar-se nas ondas daquele mar azul-quase-incolor; ao contrário, sua leitura mostrava-se mais interessante e viva que aquele fabuloso dia ensolarado. E enquanto todas as outras moças se esbaldavam no sol de escaldar, flertando com os rapazes que passavam, jogando acenos e sorrisinhos marotos, ela não dava a mínima para tudo aquilo: apenas em seu livro mantinha presa sua atenção.

E ele, que estava alguns poucos metros de distância, sentia uma vontade louca de puxar assunto com ela. Mas não o fazia, pois era um rapazinho tímido. E acreditava que seus óculos fundos de garrafa, seu corpo magro e desajeitado e sua sunga vermelha de vários verões, de forma alguma, o ajudariam para início de conversa. Sem saber, cultivava algo platônico: não amor, nem paixão, pois esses ainda desconhecia, mas uma grande atração. E essa atração platônica, era o que o fazia manter os olhos na figura notória que se estendia naquelas areias em pleno fim de janeiro. E era o que o fazia também, observar sutilmente ela virar as páginas do livro, com certa solenidade e precisão - e nem sequer uma piscada de olhos, ou um olhar de relance ela o dava. Nem ao menos parecia perceber sua insignificante presença. Na sua imaginação, sentia-se como um sapo, e ela, uma princesa de um reino distante.

E como é comum em dias de verão, o tempo fechou do nada e a chuva ameaçava cair em instantes. Mulheres, homens e crianças energicamente recolhiam suas tralhas, e rapidamente, a praia se esvaziava. E nessa agitação, apenas ele e a moça continuavam sentados, como se nada estivesse acontecendo. Quando as únicas figuras que se distinguiam entre as areias brancas e o céu cor de chumbo, eram ele e ela, a chuva começou a cair. Ambos, aos poucos, saiam do transe que se encontravam, quando sentiram a chuva fria desabar sobre eles. E, calmamente, a moça guardou seu livro e fechara seu guarda sol; e como por não ter-se algo mais a volta para enxergar, ela o viu. Diferente do que ele imaginava, ela não o repudiou, ao contrário, sorriu, ao mesmo tempo em que seus cabelos se agitavam ao vento, para em seguida, ficarem ensopados pela chuva que desandava; e ele vermelhou; e ela, com o sorriso convidativo ainda nos lábios, correu em direção as ondas, para logo após, lançar-se naquele mar intenso e agitado. E sem pensar, ele correu atrás, e também entrara no mar de águas frias, mas não a achou. E tentou de todas as formas encontrar aquela figura única que facilmente notaria dentre o azul marinho que o envolvia; e sem perceber, distanciava-se cada vez mais da orla. Até que em determinado momento, seus braços e pernas cansaram; e percebera ter nadado tanto, que nem conseguia avistar mais a praia. De repente, sentiu algo envolto em seu pé, e esse algo, puxava-o para o fundo; e desesperadamente se afogava. Com seus braços finos tentava subir à superfície, mas a cada frustrada tentativa, novo gole de água engolia. Até que sem mais forças para continuar, e certo de seu fim, desistiu, e afundou na profunda escuridão do mar. Concomitantemente, um grito apavorado saiu de sua garganta, fazendo todos a sua volta olharem assustados. Não sabia o que tinha acontecido: a pouco estava se afogando, e agora, estava de volta a praia, estendido debaixo de seu guarda-sol, o corpo com insolação pelo sol que pegara. E a moça também continuava lá, agora, lançando-lhe um olhar de desaprovação. E não demorou muito para que ela se levantasse, colocasse seu livro dentro da ecobag, recolhesse seu guarda-sol colorido e fosse embora. E ele, com o corpo ardendo, e ainda se recompondo do pesadelo que tivera, pensara, que assim, realmente, fora melhor para ambos.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Malditas Senhas

Não vou começar esse texto dizendo que poucas coisas me incomodam, mas sim que dentre as tantas coisas que me incomodam, uma delas consegue me deixar ainda mais furioso: senhas. Não quero dar dica alguma para nenhum ladrão de senhas bancárias, mas minhas senhas costumam ser iguais. Digo, tenho diversas palavras/códigos/números que uso como senhas para diversos acessos, e para muitos acessos elas são iguais. Já faço isso para facilitar minha curta memória, mas mesmo assim, não adianta: quem disse que eu não me esqueço delas? É passar um tempo e eu já não me recordo se a senha daquele site de relacionamentos é “x” ou “y”, do MSN é “z” ou “t”, ou do banco é “p” ou “s”. E lá vou eu, tentando todas as possibilidades existentes, criadas e esquecidas por mim. Bufando de raiva, mais tentando é claro. E tento, tento e tento, e às vezes, não dá em nada. E eu lá bufando como um touro epilético. Esse foi o caso da minha senha do Orkut, que eu tentei tudo o que eu conseguia lembrar, e somente após um mês de milongas, é que me lembrei da bendita. Até então só acessava em alguns instantes no meu serviço, pois lá meu computador bonzinho fez questão de armazená-la, e no rápido momento em que digitava a primeira letra do login – sim, meu esquecimento é entre senhas, não logins – tudo acontecia. Sem falar que existem outros tipos odiáveis de senhas: as que espirram, (sim elas “espirram” pois é passar o prazo definido e atttccchhhimmm, elas espirraram e vão pro além) e as de três tentativas e tu se fode. Tu vai lá com toda a pose e tenta uma, errou e se preocupa, tenta a segunda, se apavora e arregala os olhos, tenta a terceira, errou, se fudeu, e grita: Nãoooo acredito que bloqueie meu cartão de novoooooo!


Depois da maldição das senhas que nos cercam, somente nos tornarmos escravos de alienígenas deve ser pior...