domingo, 19 de setembro de 2010

A intolerante - Estórias de Psicólogos # 1

– Como assim não tem jeito?


Nunca imaginei ouvir isso de você. Eu faço terapia a tanto tempo que acredito merecer mais compreensão pelos meus problemas. Afinal, graças a eles é que eu estou aqui e pago todo santo mês a gorda conta pelo meu desequilibrio. Você nunca me respondeu nesse ar de desdem, nesse ar de “foda-se sua cretina, cada um com sua vida”. Me diz que não há jeito, que o que esta feito, esta feito, azar é o meu e ponto final. Você nem tem mais aquele olhar complacente. E onde estão as palavras otimistas e motivadoras? Você está tão azeda quanto uma laranja verde, que parece ter dormido com os pés destapados. Ou não deu. Mas tudo bem, se você não deu, não deu, eu até entendo, já me senti assim diversas vezes por não ter dado, mas bem que podia ao menos terminar de me escutar! Eu tô precisando desabafar cara!

– E eu acho melhor você dar o fora daqui.

Dar o fora daqui? Como assim? Isso é jeito de falar?? A sessão acabou de começar e você acabou de acabar? Que história é essa? Ai, ai,ai, acho que você não está muito bem mesmo. O que houve? Quer me contar? Desabafa comigo, talvez eu possa te ajudar, não é? Inversão de papéis não é o meu forte, mas eu posso abrir uma excessão para você...

- Não aguento mais ouvir você falar qualquer coisa que seja.

Bom, queridinha, nessa caso fica dificil. O que está acontecendo? Que bixo te mordeu? Olha, vou começar a levar a sério essas coisas, e desse jeito nunca mais volto aqui mesmo, viu? Mas deixe me ver, você está bem diferente... É o cabelo, né? Corte novo, ta na cara! Mas.... quem é essa criatura que finje que corta? Digo, acho melhor você mudar de cabelereiro, e tenho que te confessar que eu também ficaria meio amargurada caso fizessem isso comigo... Ele deve trabalhar numa pet shop, porque você está parecendo um poodle. Ou uma ovelha...

- Tenha uma boa tarde.

Perai, eu não disse que ia embora, não fica me cortando desse jeito. Além do mais ainda temos meia hora. E já que está de pé, aproveita e me busca um cafezinho por favor? Como assim, você não é minha empregada? E você não irá me trazer nem um copo d`água? Água não se nega a ninguém viu, minha vó já dizia isso... Sim, sim, mas é que eu tô precisando terminar de falar, pombas! Tô com a coisa intalada na garganta e não consigo colocar pra fora porque você não me deixa falar! Não, eu não vou vomitar no teu tapete Persa, não é isso que eu quis dizer... Bom, se você prefere ficar de pé tudo bem, eu não me importo. Mas pelo menos fica atrás da mesa, se ficar de pé na porta aberta igual um dois de paus vou começar a ficar ansiosa e com torcicolo de ficar com o pescoço virado. Estou começando a achar que você quer mesmo que eu vá embora. Como assim você quer mesmo? Como assim "até que enfim você percebeu isso"? Alguma coisa aconteceu para você estar me tratando dessa forma, não é? Me conta de uma vez, que eu prometo ir embora e nunca mais falamos sobre isso, ok? Ah... você trocou de profissão... é isso? Eu devia ter desconfiado... Bom, então já vou indo mesmo... muito obrig... mas que vaca! Fechou a porta na minha cara! Fez bem ter trocado de área, nunca gostei do trabalho dessa ordinária mesmo...

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